sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Já faz um certo tempo desde que coloquei meus olhos em seus doces olhos verdes. Eles meio que me hipnotizam, não sei se por serem tão gentis em rudes músculos ou se por você ser tão misterioso assim. É a sua solidão estampada em cada gesto e cada palavra, como se você guardasse lá no fundo toda a sua doçura, para que não transpareça a ninguém seu coração. É toda a sua sinceridade escancarada, ainda que não falada. É sua tentativa de se esconder de todos, ou de mim, ou talvez de você. É a sua invisibilidade que faz com que você não seja notado por ser diferente e essa mesma diferença que me faz te notar todos os dias em que espero você aparecer.  É uma não explicação que não cabe a mim tentar explicar, apenas olhar seu par de belos olhos verdes e me encantar ainda mais por cada pedaço de você. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Amor à sangue quente

Calo e sinto queimar o desgosto da palavra engolida, o rasgo garganta abaixo pelo soluçar de letras que vem e vão, nunca passando do toque da língua entre os dentes e o céu da boca, nunca adquirindo forma. Pensei em pedir para você ficar, em te falar os engasgos acumulados, te chamar de uma infinidade de coisas ruins, te dar até uns gritos ou ao menos bater a porta na sua cara como fazem as pessoas histéricas (ou não). Podia ter, sei lá, chorado, mandado você ir pro inferno, virado as costas e comido uma panela de arroz doce, ter te dado um tapa na cara tipo novela mexicana, o que aliás sempre passa um pouco pela cabeça das pessoas na hora do drama. Mas não teve dramas. Foi um silêncio dentro e fora de mim, silêncios impreenchíveis, que nem palavra, trilha sonora ou barulho dos carros lá fora daria conta. Silêncio de não dar conta, de fugir todo o alfabeto. Queria ter te dado um beijo de despedida, um afago de amigo mesmo, um salve pelos tempos vividos, meio que de recompensa. Mas não. Fiquei parada como quem olha pro nada, sem ao menos me importar. Sem aquela sensação de posse perdida, sem aquele velho sorriso leve que se mostra por tudo. Sem ter nem te dado um tchau ou até logo, sem aquele clichê de quero que você seja feliz ou foi bom enquanto durou. Não tive palavras. Não tinha palavras nem poderia. Aquele estranho que saiu pela porta da sala já não significava mais nada. Nem fantasma de passado, nem boas memórias, nem tampouco más lembranças. Só a sombra do que um dia foi um homem. Só a capa de um assassino de amores mutilados, sem sentir culpa alguma do sangue em suas mãos. 

sábado, 11 de agosto de 2012

domingo, 22 de julho de 2012

parte II

Tão distante quanto aquelas paisagens que a gente vê pela janela do carro quando viaja e fica imaginando como seria ir até o topo daquele morro ou até onde vai aquela imensidão de árvores. Como aquela casinha no meio do nada, que a gente sempre pensa ser de uma família bem feliz. Você me transmite tanta paz com esse seu jeito de ver o mundo e tratar as pessoas, de modo tão doce e tão realista, vendo o melhor de todo mundo. Você seria incapaz de machucar uma formiga, mas consegue com um sorriso dar tantos nós em minha cabeça que fico zonza tentando não ficar com cara de boba, controlando meu embaraço quando você me olha pra perguntar qualquer besteira. Não é um gostar propriamente dito, nem amor que ainda não sei como é. É uma vontade de te ter por perto, de te ter pra mim. Por admiração, por você ser sempre tão agradável, tão fofo, tão adaptável, tão apaixonável. Você parece ser a única pessoa capaz de preencher minha multipolaridade, de tornar as coisas tão mais simples, o único imune a minha falta de paciência. Sempre tão longe e tão perto, a gente quase como ponteiro de relógio, convergindo em horas certas e erradas e em direções diferentes na maior parte do tempo. Tão possível e ao mesmo tempo me sinto como criança a olhar pela vitrine (mais uma vez) aquele brinquedo que não pode ter. Tão alcançável que fujo mais do que tento me aproximar de tão desconcertante que sua presença as vezes me parece, ao mesmo tempo em que tento chamar sua atenção de um jeito torto que quase nunca dá certo de tão atrapalhada que sou. Tão despretensioso, que acordo assustada toda vez que você surge de repente em algum sonho, me deixando com a lembrança de seu gosto que já nem sei mais se ainda existe ou se é só imaginação.Tão onírico e tão real, que só desejo que quando a pilha acabe a gente aponte pra mesma direção.



 ps: novamente inspirado por você.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

20.07



É alguma coisa no tato, dirão aqueles mais sensorialistas, ou quem sabe no insight, no emaranhado de coincidência das vida dos que creem veementemente no destino. Reputar-se-ão vãs, perdas de tempo e desvio na rota do umbigo dos individualistas, ou o sentido de ser humano, dos seres políticos sociais. Se acumulam aos montes ou contam-se nos dedos de uma só mão, vivem anos compartilhados, constroem histórias ou mesmo um porre naquela festinha de fim de ano. Vivem na eternidade das lembranças, povoam os planos de velhice e cadeiras de balanço com novelo de lã para tricotar. Estão nos planos de longo prazo, nos filmes de fim de semana, nas conversas no meio da aula chata de qualquer matéria sem graça. Estão nos homéricos torrenciais de lágrimas derramados, nas risadas mais bizarras, nas ridicularidades cotidianas. Passeiam brevemente por variadas correntes e elos, unem-se ao leu e ao interesse, esse último não muito digno de confiança, e formam quebra-cabeças de mais variadas formas e recortes que se encaixam entre muito ciúme e jeitinhos birrentos. Alguns vêm lá do jardim de infância, das brincadeiras de boneca e de pique-esconde na rua, outros chegam no meio da vida acadêmica, na aula da academia e nos milhões de espaços-tempos-lugares-épocas. E chegam e se aconchegam, ocupando o tempo, o coração, o ombro, o carinho e o sofá de casa. Uns mais próximos, outros mais distantes, cada um em sua particularidade, construindo aquilo que se traduz em seu ser. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

um tanto.

Agradeço tanto e peço tão pouco que as vezes acho que essa vida não é feita pra mim. É um tanto de cansaço de andar com a cabeça baixa sem motivo, um tanto de vergonha de não se achar bem o suficiente. Um tanto de medo de chorar, de sofrer, de se mostrar. Não sei viver nessa época, nesse lugar. Nesse tanto de decisão que tenho que tomar e que me são empurradas feito almoço comido em menos de 1 minuto, engasgado no meio da garganta, nesse tanto de expectativa colocada em minhas costas, nesse tanto de sufoco pra passar. O meu querer anda junto com o conseguir até quando acho que não posso ter o que eu quiser desejar. Me preocupa o durante, o agora. Esse tanto de angústia que não cabe em mim, esse tanto de achar, esse tanto de tanta coisa. E se a dor se achegar demais? E se eu calar e lavar o rosto pra acordar? Nem sei mais o que falo, o que peço, nem sei mais se devo pedir alguma coisa. Talvez eu seja só um cara que sempre está na hora errada, talvez eu seja só uma certidão de nascimento. Ou talvez eu seja um tanto de tudo. Um tanto de mundo, um tanto de vontades, um tanto de raiva pra sentir. Um tanto tão tanto de desordem. 

quinta-feira, 10 de maio de 2012



Êxtase: s.m. Arrebatamento do espírito; enlevo; contemplação do que é divino, sobrenatural, maravilhoso. [Dicionário Aurélio]


Noite de lua cheia, branda e fresca como quem prevê a arrebentação. Meio a perdidas luzes, lentas vozes e inúmeros suspiros. Leve respirar, suas cores exalavam um total descontrole de seus pensamentos, transcendia ao tudo mais que lhe rodeava, esquecia-se do mundo, do lado, dos problemas. Compensando todo mal que lhe aprouvera algum dia, todo medo caindo, todo silêncio sendo preenchido por aquele momento. Inundava-a, o brilho do palco, a Lua, a luz da janela, a lâmpada do quarto. Frações de espaço-tempo contadas à batidas, pré-cognições exacerbadas em certezas que tudo antes já lhe aparecera tal qual sonho ou nuvens formatadas em figuras conhecidas. Como tudo estivesse se amoldando para aquele lugar, para que pudesse viver a encenação de seu teatro-vida. Um ser lúdico, o abraço dos corpos, o destino acertado, o arrepio sentido, o prazer desfrutado. Atmosfera aprumada em sucessivos orgasmos sísmicos, de visão, de ouvidos, de pele, de sentimento, de destino, de sorrisos cantados, de desejos concretizados. E ela sabia que já não mais esqueceria de nenhum dos momentos, embora a certeza mesclasse dúvida em tamanha perfeição presenciada em tão curto tempo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Diálogos de espelho



Ou monólogos de eu para eu, tanto faz. Não sei bem como começou, se foi num dia chuvoso sem fazer nada, se foi no dia da festinha de 12 anos da Aninha, se foi com aquele convite pro cinema ou se foi na festinha da escola. Acho que devo ter me sentido mais ou menos como os índios quando ganharam espelhos pela primeira vez e a partir daí meio que passaram a se enxergar de forma diferente. Quando a gente começa a incorporar todas aquelas belezas de revista, de querer ser paquita, chiquititas ou aquela mocinha bonita da novela das 7, a gente começa a se olhar diferente em frente ao espelho, e passa a não se ver, mas a ver a projeção de uma ideologia cruel e imperativa, na qual nos enquadramos (e nesse caso, que sorte, ufa!) ou não. E o problema começa quando a gente não cabe naquela fantasia, naquela imposição, naquele padrão. E a gente se olha cada vez mais no espelho. E olha aquela espinha, aquele nariz desajeitado, aquele cabelo cheio ou ralo demais que nunca fica bom, aquele bad hair day eterno, aquela maquiagem super cara que não disfarça mancha nenhuma. E lá se vão mesadas e mais mesadas, salários e mais salários pra ajeitar tudo.. e achar mais um defeito que vai custar mais litros de auto estima e mais salários, mesadas e afins. Bem, o problema então é esse consumismo, e o capitalismo, e essa mídia louca, e as barbies, e os contos de fada, e a Disney, e as gerações passadas, e as futuras, e os EUA... e ad infinitum. Não. O problema não é só esse. Não é se olhar e estar insatisfeita com algo, e querer mudar um pedacinho ali,perder o pneuzinho da barriga, comprar 50 esmaltes diferentes, comprar 500 vestidos. O problema é quase como iceberg, muito, muito mais complicado, grande e gélido. Ele começa como me perguntei lá no início do texto, de algum 'dia mais importante da minha vida', de um oi do carinha gatinho, de um convite qualquer. Ele começa assim, despercebido, quando a gente para pra pensar no que vai vestir, no que vai falar, no que vai fazer no cabelo.. E vai tomando forma, se alimentando daquele friozinho na barriga, daquela ansiedade, daquela ex namorada linda, daquele ciúmes bobo. E quando a gente vê, ta lá, provando todas as roupas do guarda-roupa, pensando no que fulano vai pensar, no que sicrana vai vestir... Ta lá em frente ao espelho por horas e mais horas, se achando seca, gorda, feiosa, louca, esquisita. Revestindo de novo aquelas roupas que já conhece de cor, combinando as peças trocentas vezes, se entupindo de maquiagem. E lá em frente ao espelho: 
- Isso ainda não está bom. Não que eu ainda goste dele, claro que não. Já faz tanto tempo né? Ele já está em outra, ta tão feliz. Ai. Quero tanto o bem dele, quero tanto ver ele feliz.. E finalmente vou conhecer aquela menina né? Como será que ela é? Não consegui fuçar direito todas as fotos, mas acho que ela é assim meio fresquinha. Acho que vou com esse vestido.. Mas ele ta tão sem gracinha né? Não que eu me importe, mas também não vou aparecer que nem uma louca né? Tenho que ir bonita, vou colocar aquela calça que me deixa com mais coxa. Mas também não dá pra ir feito uma piriguete né? Ela é super ciumenta. Mas quer saber, não to nem ai, ela que cuide do que é dela, eu nem gosto mais dele mesmo. E se ela é insegura problema dela. Ai, vou com aquela blusa nova! Linda demais, Tudo bem que deveria guardar pra sair pra algum lugar mais chique né? Mas não posso sair com eles assim, meio desesperada, e essa destaca mais a minha cintura que ele gostava tanto. Ai meu Deus. Será que eu ainda gosto dele, acho que não né? É vou assim mesmo, vou matar neguinho do coração. (Orgulho!)
3 horas depois.
- Aquele idiota ridículo nem me olhou, eu sabia que ele estaria diferente, eu sabia. Claro ela é muito mais alta do que eu pensei e muito mais magra também. É chata como eu esperava, como ele pode ter me trocado por aquela menina? Mas ela é lindona né? Se eu não tivesse essas espinhas, se eu tivesse malhado mais pesado. Ah, com certeza aquela menina ia ver o dela, se ia! Mas também, o que eu pensei, que com esse nariz de batatinha e esse cabelo cor de nada, claro que isso iria acontecer. Eu sou uma ridícula por ter pensado que tudo ia dar certo, minha vida é uma droga. Tudo sempre dá errado pra mim, minha sina é essa. (Travesseiro e choros eternos)
O problema torna-se realmente um problema, quando a gente para de ver o espelho como um objeto e passa a ver como a "opinião" mais importante de todas, como aquela superfície na qual está todo o seu sucesso, todo o seu charme, todas as suas armas. Aquela imagem refletida no espelho não é nem metade do que realmente importa, do que realmente tem-se para refletir. A imagem no espelho é mero acessório. O espelho apenas mostra uma imagem que nem é real, Fisicamente falando, de você. O que a gente enxerga nesse espelho, ai sim, é a opinião mais dura, mais gelada, mais icebergzada do problema, e não é a opinião do espelho e sim a sua própria opinião. O que a gente imprime na gente, o que a gente dialoga monologamente com a gente. O que a gente vê no espelho é a crítica mais severa que a gente vai receber, o pensamento mais idiota e o menos próximo da verdade. Não que a gente não possa trocar de roupa mil vezes em frente ao espelho, não que a gente não deva conversar com o espelho (psicólogos super indicam), não que a gente não deva querer se sentir linda e poderosa, mas a gente deve e tem obrigação de pegar mais leve com a gente. De se olhar e dizer: sou linda por ser eu. De colocar a confiança lá nas alturas (com moderação, claro, my dear) e não estar nem ai. Porque no final das contas, você realmente nem gostava mais dele. :)



__________________________________________________

Não era bem esse sentido que queria dar pro texto, mas as palavras vão tomando forma sozinhas, e enfim, não sei ainda se fui com a cara dele, mas vai ver é tudo questão de olhá-lo de outro jeito ^^

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Volta e meia você me vem a cabeça, como reticências idiotas numa história que parece não acabar nunca. Há muito foi-se todo amor, toda vontade de te ter, toda carência de seu abraço. Mas a falta de você persiste como luz em um quarto vazio a procurar iluminar todos os cantos. A tua presença, o ter você pra contar as coisas mais bobas e as mais secretas. Você pra acabar com o medo, com o silêncio, com o vazio que tomou conta do lugar que você ocupava.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

cena, coca-cola e chazinho

No fundo todas as pessoas são iguais. Homens, mulheres, velhinhos de cabelo branco, crianças, punks e amantes de coca cola. Todo mundo bate o pé, faz drama, birra, confusão.. e esquece que na maioria das vezes faria a mesma coisa se estivesse no outro eixo. Trocar a incerteza por algo certo e mais encaminhado? Não tem um ditado que responde perfeitamente isso: "antes um pássaro na mão do que dois voando?" Dizer pra namorada(o) ciumenta(o)-possessiva(o)-confusenta(o) que está em casa deitado(a) e a ligação está caindo, com certeza vale muito mais a pena do que falar que saiu com os colegas de trabalho pra tomar uma no bar da esquina. Ou mesmo inventar uma dor de cabeça pra não ter que explicar porque não ta afim de sair ou porque não quer ir pra cama. É tão mais fácil evitar essas briguinhas bobas com mentiras também bobas... ou não. Pode parecer besteira, mas de mentirinha em mentirinha as coisas vão se transformando em grandes bolas de neve. Quem sabe se aquele incerto não daria muito mais certo do que o mais encaminhado? Quem pode dizer se aquele(a) namorado(a) é tão ciumento-possessivo-confusento é assim porque não já passou por isso várias outras vezes? E se em vez do barzinho da esquina, for a casa do colega gato(a)? E se a saída for pra distrair de um problema? E se o sexo for por carência, por saudade, por amor? Pra quê tanta mentira, pra quê tanto desgaste nas brigas bobas quando essas mentiras são descobertas? Pra quê a birra se dá pra deixar pra lá, se vai esquecer dois segundos depois, se não vai dar em nada. As pessoas andam se consumindo a toa, quebrando a cabeça por nada, fazendo tsunami em xícara de chá. No fundo todas as pessoas são iguais. Nem todas gostam de coca cola, e pra isso existe suco, água e chazinhos, guaraná e fanta uva, mas ninguém gosta de ser enganado ou feito de idiota. Sejam sinceros com vocês, vai mesmo valer a pena tanta confusão? Cena só é fofinha quando é pra pedir carinho e fazer bico, pro resto existe filme e novela. Bom senso nunca é demais e os limites servem justamente pra achar esse 'bom'. Porque no final das contas, nem sempre a gente consegue enxergar todos os eixos da história, mas pensar em se colocar no lugar da pessoa ao lado não dói e não faz mal a ninguém. :)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Morena

Não mais samba, não mais sonho, não mais amor para fazer. Não mais aquele riso solto e oferecido e aqueles olhos de jabuticaba perfurando a minha alma. Onde você deixou as suas cores morena? Onde acho seu batom? Há um desespero que em mim aflora ao verte rosa murcha. Há um infinito que daria para te pintar. Não mais a alma em encanto, a pele a refletir o sol. Em que lugar você perdeu você, morena? Diz onde posso te buscar. Diz onde nesse Universo eu resgato o brilho e a vida pra você. 

Noites de verão II



Os sonhos de verão chegaram com a cavalaria infante e austera, propagada aos ventos e aos ouvidos de todos os dispostos a embalar-se naquela canção de ninar. The dreams of the fairy tales be come true, my dear! Diz o mocinho pra mocinha no filme do cinema. Olhai e vede o amor que se aconchega, sente o gosto doce do beijo com o qual te desperto à vida e ao encanto. Magia emanada das fadas e ninfas e sereias. Olhai e vede a aura que cobre o por-do-sol. A noite já vem para guardar o nosso segredo, o nosso enlace, o laço do teu vestido ao chão. Sente o calor da noite e do meu beijo no abraço com que te tomo para mim. Vem e olha e vê e sente, que em ti todo o tempo se evapora, todo escuro se ilumina e todo mal vai embora sob sua proteção. 

sábado, 24 de março de 2012

nós

Em seu travesseiro espalham-se os cheiros, os gostos, desejos e meus cabelos molhados após uma jornada extensa de trabalho seguida de um banho quente de quase meia hora. Você ainda vai ficar doente, é o que você me diz em vão, sabendo da minha teimosia embaraçada com minha falta de tempo pra lavar em outra hora, ou tempo desorganizado, como minha mãe dizia até uns 2 anos atras, antes de eu arrumar esse emprego meio chato que eu tanto adoro, e não só por causa do dinheiro no final do mês com que eu pude finalmente ter um canto meu. Acho que me encontrei pelo menos em uma coisa nessa minha vida cheia de indecisões e determinação impulsiva e instintiva. Ultimamente você anda meio distante, meio assim, sei lá, você reclama enquanto eu brinco e afago sua cabeça, antes das minhas dancinhas bizarras que tanto te irritam e que eu faço pra te pirraçar porque amo as suas birras e os seus biquinhos e suas covinhas aparecendo quando ri e me imita e me joga na cama depois. Acho que nem pensava em algo assim, essas coisinhas de casal tão clichês e tão bobas que a gente só entende quando ta com alguém e que eu tanto achava um grude e mimimi demais pra o meu gosto. 2 anos e eu que duvidei que ia gostar assim de alguém e muito menos dividir as contas, o apê e a vida. Ah, você é tão bonito, mesmo quando não me deixa dormir pra jogar videogame de madrugada, me deixando ganhar quando começo a dar piti e a ficar emburrada. Você é tão incrível, com seus malabarismos na cozinha, sempre derrubando as laranjas no próprio pé e conseguindo queimar até miojo. Você é tão bom pra mim, com seu cheiro de sempre, daquele perfume que sempre esqueço o nome e que persegue o meu olfato em todo canto e até em todo sonho, tão bom com o seu gosto de chiclete de menta e os seus desejos loucos de sorvete de manhã cedo, de atentar os vizinhos com rock no volume máximo até eles virem reclamar e você fingir que nada ta acontecendo, com os seus vamos para tal lugar assim meio do nada. Você é tão meu, beijando minha testa ao sair de casa, sempre atrasado e esquecendo as chaves, colocando aquele disco velho de jazz e me puxando pra você, rindo da minha dança esquisita e desengonçada e reclamando de meu cabelo molhado pingando e me dizendo que eu vou ficar doente e me levando chá de manhã cedo porque eu tô meio febril e você me avisou, mas eu sempre sou teimosa e eu sei disso, mas você sabe que eu nunca escuto e sempre faço o mesmo, acho que só pra te fazer cuidar de mim e me abraçar e dizer que me ama e eu também te amo, e fica aqui mais um pouquinho comigo pra eu sentir seu cheiro, seu gosto e os seus, os meus, os nossos desejos. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre o desfalado

- É você!
- Eu o quê menino?
- É você e eu sempre soube disso, embora eu tentasse esse tempo todo fingir que não!
- Fingir o quê de quê?
- Você não entende?
- Não entendo o quê?
- Que é você!
- Eu o quê?
- Nada. Você nunca entende nada!
- Nada de quê? Acho que voê tá ficando doido, não ta falando coisa com coisa!
- Nada. Deixa pra lá.
- Deixar o quê?
- Já disse pra deixar pra lá!
- Tá.
- Tá?
- Tá ué. Você quer que eu diga o quê?
- Nada. Você nunca diz nada.
- Hãn?
- N-a-d-a.  
- É, você tá ficando doido.
- Doido?
- É.
- Você é que nunca entende nada.
- Nada de quê, pelo amor de Deus!
- Não disse?
- Disse o quê?
- Que você não entende nada!
- Hãn? Olha, tô indo. Você que já me deixou doida com isso tudo.
- Tá. Tchau.
- Tchau.

(...)

_______________________________________________________

O não dito, o dito, o pensado, o não dito que queria e devia ser dito, o pensado e não falado, o dito e não escutado, o imaginado que disse, o escutado que não foi falado...
Para palavras e seus significados, silêncios, frases e pensamentos.
Ah, o desfalado!


#

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

-


Deve existir um ponto da vida em que a gente olha pra trás e pensa no que poderia ter acontecido se a gente tivesse escolhido de forma diferente, se tivesse largado tudo, se mudasse aquilo que incomodava alguns meses antes. Deve existir a idade que a gente entra em crise e não sabe se foi para o bem ou para o mal tudo aquilo que fizemos. Deve existir uma fase de porquês, igual aquela que a gente tem com 5, 6 anos e quer saber o porquê de tudo, o porque que a coisa é assim, e o assim porque é desse jeito e não de outro. Deve existir aquele momento em que a gente procura nas lembranças quando deixou de ser o que era, o que levou o coração a ficar apertado, que evidência e que gesto fizeram gostar ou desgostar daquela pessoa. Deve existir aquela semana em que a gente lembra de uma pessoa e percebe que ela não faz mais parte de sua vida, embora você tente de tudo para fazer retornar os bons e velhos tempos. Deve existir alguma forma de sanar toda a loucura a qual a gente fica submerso em dias tão loucos que contando parece mais loucura ainda. Deve existir alguma fórmula pra suportar a rotina quando ela se torna insuportável demais pra ser vivida. Deve existir um placebo que engane todo o sentimento ruim e toda angústia, aquelas doses de bons momentos e boas sacadas que fazem a gente esquecer tudo que atormentava. Deve existir alguma mágica divina, que faz a gente se sentir acolhida igual conchinha, que faz a gente acordar com um sorriso no rosto e mesmo nos dias de mais cansaço e mais desânimo conseguir ter força. Deve existir alguma lógica em toda espera, em toda demora, em todos os caminhos considerados errados, em toda estrada certa que não conduziu a lugar algum. Deve existir algum ou alguns lugares pra pertencer, alguma vocação pra seguir, alguma paixão pra ser descoberta, alguma coisa dentro da gente pra aflorar e servir pra alguma coisa. Deve existir, e de algum modo clamo todos os dias para que exista. Para que em cada desencaixe alguma coisa possa encaixar, para que se possa expulsar e dar-se conta do que já não mais faz parte de si, para que em momentos, meses, anos, fases, a gente possa crer que exista alguma coisa que nos faça crer em nós mesmos. Alguma coisa lá dentro da gente, que faz enfrentar tudo, que faz ter medo, que faz esse medo servir pra sentir que estamos vivos, pra que essa vida possa ser questionada a todo tempo. Deve existir motivos e porquês, que ainda que possam não ser nunca respondidos, ainda que tragam discórdia, ainda que sirvam pra que a gente duvide de tudo, fazem com que se tenha motivos e porquês para viver. A vida deve ser mesmo uma grande viagem, e como tal, as vezes a gente precisa parar pra reabastecer o carro, pra respirar ar puro, pra apreciar a paisagem. A gente pode até pedir carona pra chegar a algum destino, ou seguir sem rumo por um tempo, ou comprar um mapa, se perder em algum canto, pegar um barco ou um avião. Mas é certo que a gente sempre chega em algum lugar, e errado ou não, deve existir um lugar e um cais, uma companhia de viagem, uma cidade pequena, uma rodovia esburacada, uma curva mais torta, um canto pra cada um de nós. Todos sob o mesmo céu

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

pequena imensidão de mundo




O mundo é tão grande e eu tão pequena. 
Pudera vivê-lo em cada parte de seus cantos, em caba beira de seus mares.
Pudera senti-lo com o mais fervoroso apreço, com os mais límpidos olhos, com os mais preciosos afagos.
Pudera sê-lo em sua imensidão, em suas adversidades, em seus contrastes cortantes.
O mundo é tão grande e eu tão pequena,
que ainda que o persiga chão a chão não percorrerei todos os seus caminhos, nem tampouco o verei de ponta a ponta.
Mas decerto, embora caiba dentro dele e ele em mim não caiba por completo,
minha vontade de desbravá-lo é maior que o universo inteiro 
e se cabe em ensejo na pequenez de meu ser e na imensidão do meu desejo. 

°

Ao passado prometeu em meio a juras e sussurros que não tornaria a trazê-lo de volta, a jogar na cara e na chuva e reviver cada um deles da pior maneira possível. Ao passado empurrou, estapeou, berrou. E logo mais tornou a buscá-lo e fazer de novo o mesmo passado. Passado, presente, passado, presente, passado, presente. Em um círculo vicioso e dolorosamente perigoso ao qual se atira sem pensar, sem medir e sem lembrar.